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A viola de cocho e a política

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Conheci um construtor de viola de cocho que atendia pelo nome de “Jhão-Jhão”. Era mal-humorado, com pouca escolaridade, mas carregava uma imensa sabedoria popular. Detestava todo tipo de político.

Dizia sempre que político tem características inconfundíveis: vive sorrindo, apertando mãos, abraçando pessoas, falando sem parar… Mente com excelência e costuma pentear o cabelo para trás — talvez para reforçar aquela cara “lambida” que transmite cinismo com a maior naturalidade.

Escultor de ximbuva e cantor de cururu, o senhor Jhão-Jhão gostava de filosofar sobre os bons políticos — aqueles raros, segundo ele — e dizia:

1. “O bom político vive angustiado, porque o sossego não o satisfaz. Ele sabe que tudo o que já fez é pouco, e que ainda há muito por fazer.”2. “Tem a consciência de que suas conquistas são sempre incompletas, porque as necessidades do povo não têm fim. Sua missão nunca se encerra.”3. “Entende que toda promessa feita ecoa no mundo espiritual, e sem perceber, enxerga com os olhos da alma do povo.”

Jhão-Jhão tinha sua própria técnica para esculpir a viola de cocho. Esse instrumento típico da nossa cultura é simples comparado aos aparelhos eletrônicos de hoje, mas carrega a alma das festas de cururu e siriri — celebrações que iluminavam os terreiros das fazendas ao redor da velha Cuiabá.

A viola de cocho tem esse nome por causa do formato: nasce de um tronco inteiriço da madeira de ximbuva, que vai sendo talhado com facão e formão até ganhar a forma da viola. É escavada em forma de cocho — onde está sua caixa de ressonância. Sobre ela, é fixado um tampo de piúva branca. O cavalete é de cedrinho. A escala, o rastilho e as cravelhas completam a obra. As cordas, que antes eram feitas de tripa de macaco, hoje são substituídas por linha de pesca — para preservar a espécie.

Certo dia, presenciei um encontro entre um político e o escultor/cururueiro Jhão-Jhão. O político, curioso, avistou um enorme tronco de ximbuva no rancho e perguntou:
— O que você vai fazer com esse tronco tão pesado?

Jhão-Jhão respondeu:

— Estou idealizando e planejando. Antes de começar, preciso preparar meu espírito. Trabalho com madeira bruta, mas dependo da leveza da alma. É nela que encontro inspiração. Primeiro, visualizo a viola em minha mente. Depois, o facão faz o resto.

O político, surpreso, comentou:— Eu não sabia que um escultor planejava tanto assim. Achei que fosse coisa do “fazejamento” direto…

Jhão-Jhão então disse:

— Idealizar é parte da tarefa. Mas veja: construir algo como uma viola é diferente de fazer um plano de governo com cara de espelho quebrado. Político escreve promessas sem inspiração. Depois de eleito, amassa tudo e joga fora como se fosse um papel qualquer. Não há sentimento verdadeiro no que fazem.

— Já eu, que transformo um tronco de meia tonelada numa viola de cocho, não posso mudar de ideia no meio do caminho. Preciso respeitar a madeira, o tempo e minha criação. Já o político, muda de opinião no meio do mandato como quem amassa um bloco de papel — de poucas gramas — e joga no lixo, sem o menor constrangimento.

Tanto o trabalho do político quanto o do construtor da viola são nobres. Ambos exigem criatividade, sacrifício e dom.

Mas o essencial — dizia Jhão-Jhão — é que, por mais difícil que seja a sua tarefa, ela deve nascer da verdade. Quando seu trabalho é honesto, ele alimenta o corpo e acalma a alma. Quando não é, o alimento vira peso, e a alma sofre.

O justo é reconhecido não só pelo que faz, mas também pelo que é.

Wilson Carlos Fuáh – É Especialista em Recursos Humanos e pesquisador das Relações Sociais e Políticas, Graduado em Ciências Econômicas. É pensador e observador do comportamento humano 



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Satisfação Pessoal

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A busca por satisfação pessoal é uma jornada que nunca se encerra. Mesmo diante das conquistas, o ser humano mantém-se inquieto, sempre em busca de algo que alimente seu sentido de viver. Essa sede, que parece insaciável, é também o motor da evolução pessoal e profissional. Somos, antes de tudo, aprendizes da vida — e é nessa condição que devemos interpretar nossas experiências, fracassos e
conquistas.

Em vez de repetir erros do passado, o ideal é olhar para frente, lançar-se em novos projetos e alimentar objetivos que deem sentido à existência. Esse movimento constante — de tentar, arriscar, realizar — é um antídoto natural contra as crises emocionais passageiras, especialmente aquelas que decorrem do sentimento de
estagnação.

É nesse ponto que se destaca uma armadilha comum: a vaidade inflada por elogios vazios. Muitas vezes, somos enaltecidos não por mérito real, mas por interesses alheios que se escondem sob palavras bonitas. Confundir isso com reconhecimento genuíno pode nos levar à ilusão. Por outro lado, críticas duras e censuras injustas também não devem nos desmotivar.

O olhar do outro muitas vezes carrega invejas disfarçadas — há quem veja em nossos sonhos o reflexo daquilo que não conseguiu realizar. Sonhar, aliás, é parte vital do processo de crescimento. Os sonhos nos conduzem para além dos limites do possível. Eles carregam em si um misto de ousadia e êxtase — uma energia que só quem se permite imaginar e planejar consegue acessar. E é justamente essa
motivação, esse impulso interno, que renova a arte de ser feliz.

Motivação pode vir de diversas fontes — algumas positivas, outras negativas. Mas o que diferencia os realizadores dos demais é a persistência. Os verdadeiros realizadores não abandonam seus sonhos no meio do caminho. Seguem em frente, enfrentam os obstáculos e transformam suas ideias em realidade. No mundo contemporâneo, em que a pressa e o imediatismo dominam, é fundamental resgatar essa consciência: satisfação pessoal não é um destino, é um caminho. E só percorre esse caminho quem tem coragem de sonhar, de arriscar, e, acima de tudo, de continuar.

Wilson Carlos Fuáh – É Especialista em Recursos Humanos e
pesquisador das Relações Sociais e Políticas, Graduado em Ciências
Econômicas. Fale com o Autor:
[email protected]



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